Ex-ministro da Defesa de Bolsonaro sugere 'acareação' com Baptista Júnior

O ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) sugeriu ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que seja realizada uma acareação entre o ex-comandante da Aeronáutica Carlos Baptista Junior, testemunha no processo que apura a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. Moraes, na sequência, afirmou que esse tipo de procedimento não é feito entre réus e testemunhas.
Nogueira fez a sugestão em resposta à pergunta de Moraes sobre se ele levou a chamada "minuta do golpe" para reunião, em dezembro de 2022, com os outros réus. O general da reserva disse não se lembrar.
O que aconteceu:
Moraes leu para Nogueira trecho do depoimento de Baptista Júnior ao STF. Nele, o ex-comandante da Aeronáutica afirmou que foi o último a chegar na reunião em que já estavam o almirante Almir Garnier, Nogueira e o general Marco Antônio Freire Gomes. "Eu entrei e sentei ao lado do Garnier. Imediatamente a reunião começou e o general Paulo Sérgio (Nogueira) disse o seguinte, trouxe aqui um documento para vocês verem", disse Baptista Júnior no depoimento.
O ministro questionou Nogueira diretamente. "Falei, esse documento prevê a não assunção no dia 1º de janeiro do presidente eleito? E ele falou: 'sim'. E aí eu falei, não ito sequer receber esse documento, não ficarei aqui, levantei, saí da sala e fui embora.", leu Moraes antes de perguntar: O senhor não se recorda?
O ex-ministro da Defesa de Bolsonaro negou. Ele sugeriu, então, uma acareação.
Ministro, não me recordo, ainda mais um diálogo longo desse, eu tinha que me lembrar. E podemos, oportunamente, se assim for, fazer uma acareação para a gente ver o que aconteceu ali."Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
Moraes respondeu que isso não seria possível. "É que a acareação entre réu e testemunha não é muito provável", disse o ministro.
Nogueira reiterou que não se lembrava do fato. "Mas esse diálogo aí, não me recordo, presidente. Pode acreditar", disse.
O ministro do STF, então, insistiu e perguntou se Nogueira teve contato com a "minuta do golpe". Ele confirmou. "Eu tive contato, no dia 7 de dezembro, numa projeção de 'considerandos' na reunião com o presidente Bolsonaro. Depois, nada de minuta de golpe", disse.
Baptista Júnior contradisse Freire Gomes
Em seu depoimento, no dia 21 de maio, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-chefe da FAB (Força Aérea Brasileira) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), contradisse o ex-comandante do Exército Freire Gomes.
O que aconteceu
Baptista Júnior confirmou a reunião em que se tratou sobre golpe. Ele contou que, inicialmente, os comandantes das Forças Armadas e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, discutiam a possibilidade de GLO (Garantia da Lei e da Ordem, com presença do Exército nas ruas) para evitar uma crise social, enquanto havia os acampamentos em frente aos quartéis-generais pelo Brasil e uma greve de caminhoneiros.
Preocupação sobre golpe. Mas, depois, ele se deu conta de que Bolsonaro mirava outro objetivo. "A partir de um momento, comecei a achar que o objetivo de qualquer medida de exceção era, sim, para não haver assunção do presidente que foi eleito. A partir desse momento, fiquei muito preocupado", afirma.
Ele narrou a hipótese de prisão mencionada pelo general Freire Gomes de forma diferente. "Não é uma coisa simples se esquecer do general tratando de uma hipótese de prisão. Não foi ordem de prisão como vi na imprensa, foi hipótese. A minha palavra eu mantenho: por educação, ele disse ao presidente que por hipótese teria que prendê-lo."
Em depoimento, Freire Gomes apresentou versão diferente. Em seu depoimento, general foi mais ameno e disse que teria alertado o presidente que ele poderia ser "enquadrado juridicamente" se insistisse em algumas teses que saíam do "aspecto jurídico".
Ele também confirmou que o almirante Garnier, então comandante da Marinha, se colocou à disposição do presidente. "Eu tenho uma visão muito iva do almirante Garnier. Em uma dessas reuniões, chegou o ponto em que ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente."
Golpe não se concretizou por falta de concordância das Forças Armadas. O brigadeiro disse que não houve golpe porque "não houve participação unânime das Forças Armadas".
Ele disse que soube que o general Braga Netto foi um dos que fizeram ataques após suas declarações. "Não só à minha pessoa, mas à minha família, o que foi muito difiícil e ainda tem sido muito difícil porque tem muita gente insana."
Ex-comandante da FAB também rebateu tese bolsonarista. Em seu depoimento, ele relatou que participou de diversas reuniões com Bolsonaro com os comandantes das demais Forças Armadas e o ministro da Defesa e deixou claro que, na reunião do dia 14 de novembro, eles trataram mais do que apenas de "possibilidades jurídicas". O ex-presidente tem afirmado que discutiu "hipóteses" com os comandantes.