Jurista: Gonet pareceu 'fraco' e 'sem pilha' em depoimento de Bolsonaro
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pareceu "fraco", "sem pilha" e "sem energia" nos questionamentos feitos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante o seu depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal), analisou hoje o professor Gustavo Sampaio no UOL News - Edição Especial, do Canal UOL.
O procurador-geral da República, este, sim, uma pessoa muito mansa no seu comportamento pessoal, me pareceu um pouco fraco diante do papel que um promotor de acusação deve exercer. E o procurador-geral da República, na ação penal, ele é um promotor de acusação perante o STF.
Embora seja um jurista ilustradíssimo, eu estou falando que na postura das indagações, ele [Gonet] me pareceu tíbio, pareceu sem pilha, sem energia. Gustavo Sampaio, professor e jurista
O STF realizou hoje o segundo dia de interrogatórios dos réus do núcleo 1 da trama golpista ocorrida durante o governo de Jair Bolsonaro. Foram interrogados o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na sua fala, o ex-presidente negou qualquer tentativa de golpe de Estado, justificou declarações como "retórica" e pediu desculpas. Ele ainda conseguiu fazer piada e rir com Moraes, convidando-o a ser o seu vice para as eleições do ano que vem —mesmo estando inelegível, conforme decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Ao Canal UOL, Sampaio disse ainda que Bolsonaro usou o seu depoimento para fazer campanha eleitoral.
Eu penso que, quando o televisionamento é colocado a serviço de uma audiência judicial, como foi feito dessa vez, mas com esse nível de projeção e divulgação, tudo muda. Então, o presidente Jair Bolsonaro usou todo o seu espaço discursivo para fazer parte da campanha eleitoral de 2026, porque ele sabe que não convenceria a nenhum juiz daquela corte com o que ele estava respondendo. Gustavo Sampaio, professor e jurista
O jurista também observou uma postura diferente adotada por Moraes.
O ministro Moraes também procurou, segundo pude perceber, também em razão de todo esse televisionamento, adotar uma postura de muita elegância, de muita simpatia, sorriso nos lábios, para, talvez, diminuir um pouco a tonalidade do peso que ele carrega hoje de ser o 'inquisidor', um 'homem duro', 'severo', como ele foi com Freire Gomes, dias atrás, quando ameaçou até de prisão por desacato.
Eu acho que todos ali aproveitaram esse grande palco, que é o televisionamento. Essa é a impressão que eu tenho. Mas, na essência, isso não altera muito o conduto do processo do julgamento... nenhum juiz ali foi convencido ou se deixou convencer em razão desses questionamentos feitos. Gustavo Sampaio, professor e jurista
Kotscho: Moraes foi mais 'generoso' com Bolsonaro do que com outros réus
No UOL News, o colunista Ricardo Kotscho considerou o ministro Alexandre de Moraes mais generoso com Bolsonaro do que com outros réus durante o seu depoimento na ação que apura a suposta tentativa de golpe de Estado.
O Moraes foi muito mais generoso com o Bolsonaro do que com outros réus que ele interrogou antes. Já tinham falado que Bolsonaro faria pose de estadista e não partiria para confronto com Moraes.
Bolsonaro transformou o depoimento [ao STF] em um palanque, em um comício, e Moraes deixou. Ricardo Kotscho, colunista do UOL
Bolsonaro é acusado de pelo menos cinco crimes: organização criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
A acusação teve como base o inquérito que investigou o ex-presidente e seus principais auxiliares, como os ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno, ambos generais da reserva do Exército. Bolsonaro é acusado de liderar a organização criminosa para tentar se manter no poder, mesmo após a derrota para Lula nas eleições de 2022.
Primeiro dia de interrogatórios
Ontem, no primeiro dia de interrogatório, foram ouvidos o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid e o ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem sobre as acusações de participação na trama.
Em seu depoimento à Corte, o tenente-coronel Mauro Cid reafirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu, leu e pediu alterações em uma minuta golpista para anular o resultado das eleições.
Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro "enxugou" o documento, que inicialmente previa as prisões de diversas autoridades do Judiciário e do Congresso, como os ministros do STF e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado. No documento teria ficado apenas o nome do ministro Moraes.
Trajetória de Gonet
Paulo Gonet é formado em Direito pela UnB (Universidade de Brasília) e professor há mais de 35 anos. Foi assessor do então ministro do STF Francisco Risek entre os anos de 1983 a 1987. Aprovado em primeiro lugar, é servidor de carreira desde 1987. Foi subprocurador e promovido em 2012.
É mestre em Direitos Humanos Internacionais pela Universidade de Essex (Reino Unido) e Doutor em Direito pela Universidade de Brasília. Escreveu diversos artigos e publicações voltados ao âmbito jurídico e constitucional. Recebeu com o decano Gilmar Mendes, o Prêmio Jabuti em 2008, com o livro "Curso de Direito Constitucional".
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