Topo
Notícias

Mauro Cid diz ao STF que Bolsonaro recebeu minuta do golpe e "enxugou", mantendo prisão de Moraes

09/06/2025 15h34

BRASÍLIA (Reuters) - O delator Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou nesta segunda-feira em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o então presidente da República recebeu a minuta do golpe, leu e fez alterações, mantendo apenas previsão de prisão do ministro Alexandre de Moraes no documento.

Outro réu a prestar depoimento nesta segunda, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi chefe da Agência Brasileira de Inteligência na gestão Bolsonaro, negou ter participado de tentativa de golpe de Estado. Os interrogatórios dos réus continuam na terça-feira e seguem durante a semana. Bolsonaro é o sexto a depor.

"De certa forma, ele enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor ficaria como preso", disse Cid ao ser questionado por Moraes.

Segundo Mauro Cid, uma versão anterior do documento previa a prisão de mais autoridades como ministros do Supremo e autoridades do Poder Legislativo. Ocorreram, segundo ele, mais de um encontro com a presença do então presidente para discutir o assunto.

O ex-ajudante de ordens é o primeiro a depor no processo a que Bolsonaro e outros sete réus respondem por tentativa de golpe de Estado na sala da Primeira Turma do STF. O ex-presidente está presente no local, mas deve ser questionado apenas nos próximos dias. Antes do início do depoimento do ex-ajudante de ordens nesta segunda-feira, Bolsonaro e Cid se cumprimentaram.

Logo no início, o delator fez questão de dizer que presenciou a maior parte dos fatos da trama golpista, mas não participou deles.

Mauro Cid declarou que o então presidente chegou a convocar uma reunião com a cúpula militar para apresentar o decreto de teor golpista. Segundo ele, os então comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Marinha, Baptista Junior, posicionaram-se contrários a qualquer medida nesse sentido, enquanto o da Aeronáutica, Garnier Santos, se mostrou mais favorável a uma ruptura institucional.

Procurada, a defesa de Bolsonaro não respondeu de imediato a pedido de comentário.

Em ocasiões anteriores, o ex-presidente negou ter tramado qualquer tipo de golpe.

Bolsonaro tornou-se réu no final de março pelo Supremo sob a acusação de tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ou derrubá-lo do cargo.

OUTRO DEPOENTE

Além de negar participação na tentativa de golpe de Estado, Ramagem também disse que não ordenou qualquer tipo de monitoramento de autoridades por parte da Abin.

O ex-chefe da Abin também disse que o arquivo que contestava o resultado eleitoral de 2022 e defendia a vitória de Bolsonaro era um rascunho pessoal, de caráter privado, e não chegou a ser enviado ao ex-presidente.

No mês ado, a Primeira Turma do Supremo decidiu suspender parte da ação penal em relação a Ramagem, nos casos de crimes atribuídos a ele por eventos ocorridos após ter sido diplomado parlamentar.

Isso decorre de posicionamento da Câmara que aprovou a sustação da ação penal no Supremo contra o deputado.

(Reportagem de Ricardo Brito)

Notícias