Brian Wilson, fundador dos Beach Boys, morre aos 82 anos

Por Mary Milliken e Bill Trott

LOS ANGELES (Reuters) - O cofundador da banda The Beach Boys Brian Wilson, criador de algumas das músicas mais marcantes do rock, como "Good Vibrations" e "God Only Knows", mas que teve uma carreira marcada por décadas de abuso de drogas e problemas de saúde mental, morreu aos 82 anos.

"Estamos sem palavras neste momento", disse a família do cantor em um comunicado informando sobre a morte, nesta quarta-feira. "Sabemos que estamos compartilhando nossa dor com o mundo."

O comunicado não revelou a causa da morte. Wilson sofria de demência e não conseguia cuidar de si mesmo. Depois que sua esposa Melinda Wilson morreu, no início de 2024, sua família o colocou sob tutela.

A partir de 1961, os Beach Boys lançaram uma série de sucessos que celebravam os marcos da cultura jovem da Califórnia: surfe, carros e romance. Mas o que tornava as músicas especiais eram as harmonias etéreas que Wilson arranjava e que se tornariam a marca registrada e duradoura da banda.

Wilson formou a banda com os irmãos mais novos Carl e Dennis, o primo Mike Love e o amigo Al Jardine em sua cidade natal, Hawthorne, um subúrbio de Los Angeles. Eles chegaram a ter 36 sucessos entre os 40 maiores sucessos de vendas, sendo que Wilson escreveu e compôs a maioria dos primeiros trabalhos.

Músicas como "Little Deuce Coupe", "Surfin' U.S.A.", "California Girls", "Fun, Fun, Fun" e "Help Me, Rhonda" permanecem instantaneamente reconhecíveis.

Mas havia muitas vibrações ruins na vida de Wilson: um pai abusivo, o abuso de drogas, uma série de colapsos mentais, longos períodos de reclusão e depressão e vozes em sua cabeça que, mesmo quando ele estava no palco, diziam que ele não era bom.

"Vivi uma vida muito, muito difícil e assombrada", disse Wilson ao Washington Post em 2007.

Em maio de 2024, um juiz determinou que Wilson, de 81 anos, deveria ser colocado sob tutela, depois que dois sócios de longa data fizeram uma petição ao tribunal, a pedido de sua família, dizendo que ele não poderia cuidar de si mesmo após a morte de sua esposa, Melinda.

Em 1966, as turnês já haviam se tornado uma provação para Wilson, que sofreu o que seria seu primeiro colapso mental. Ele continuou a ser o mentor dos Beach Boys, mas se retirou para o estúdio para trabalhar, geralmente sem seus companheiros de banda, em "Pet Sounds", uma reflexão sinfônica sobre a perda da inocência.

A obra-prima " Good Vibrations" foi gravada durante essas sessões, embora não tenha sido incluída no álbum. Embora "Pet Sounds" tenha incluído sucessos como "Wouldn't It Be Nice", "Sloop John B" e "God Only Knows", o álbum não foi um sucesso comercial imediato nos Estados Unidos. Também houve resistência ao álbum dentro da banda, especialmente por parte do vocalista Love, que queria manter o som comprovadamente rentável.

"É COMO SE APAIXONAR"

"Pet Sounds", que foi lançado em 1966, mais tarde viria a ser reconhecido como a obra-prima de Wilson. Paul McCartney disse que foi uma influência para "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles. "Ninguém está com a educação musical completa até que tenha ouvido 'Pet Sounds'", disse McCartney.

Em 2012, a revista Rolling Stone o classificou em segundo lugar, atrás apenas de "Sgt. Pepper", em sua lista dos 500 maiores álbuns de rock.

"Ouvir 'Pet Sounds' me deu o tipo de sensação que arrepia os cabelos da nuca e você diz: 'O que é isso? É fantástico'", disse George Martin, o lendário produtor dos Beatles, no encarte de uma versão reeditada do álbum. "É como se apaixonar."

Lançada como single no mesmo ano, "Good Vibrations" recebeu elogios semelhantes. Ao ouvir a música, que se tornaria o maior sucesso dos Beach Boys, Art Garfunkel ligou para seu parceiro musical Paul Simon para dizer: "Acho que acabei de ouvir o melhor e mais criativo disco de todos".

Estrelas do mundo da música prestaram homenagem a Wilson nesta quarta-feira.

"Qualquer pessoa com música em seu corpo deve ser grata pelo toque mágico e genial de Brian Wilson!!!", disse o baterista do Fleetwood Mac, Mick Fleetwood, nas mídias sociais.

Nancy Sinatra, que gravou um cover de "California Girls" com Wilson em 2002, escreveu no Instagram que a "adorável música de Wilson viverá para sempre".

Sean Ono Lennon, músico e filho de John Lennon, chamou Wilson de "nosso Mozart norte-americano" e "um gênio único de outro mundo".

Os Beach Boys venderam mais de 100 milhões de discos.

No entanto, a carreira de Wilson seria prejudicada quando seu uso de LSD, cocaína e álcool se tornou insustentável e seu estado mental, que acabaria sendo diagnosticado como transtorno esquizoafetivo com alucinações auditivas, ficou mais instável.

Ele se tornou recluso, ando dias deitado na cama, abandonando a higiene, tornando-se obeso e, às vezes, saindo de casa de roupão e pantufas. Instalou uma caixa de areia em sua sala de jantar e colocou seu piano lá. Ele também ouvia vozes e tinha medo de que a letra de uma de suas músicas fosse responsável por uma série de incêndios em Los Angeles.

TERAPIA NÃO ORTODOXA

Nascido em junho de 1942, Brian Wilson, cuja vida foi tema do filme "Love & Mercy", de 2014, teve dois homens controladores em sua vida. O primeiro foi seu pai, Murry Wilson, um compositor de meio período que reconheceu cedo o talento musical do filho. Ele se tornou o empresário e produtor dos Beach Boys nos primeiros anos, mas também era física e verbalmente abusivo com eles. A banda o demitiu em 1964.

Cerca de uma década mais tarde, quando Wilson estava em crise, sua então esposa, Marilyn, contratou o psicoterapeuta Eugene Landy para ajudá-lo. Landy ou 14 meses com Wilson, usando métodos incomuns, como a promessa de um cheeseburger se ele escrevesse uma música, antes de ser demitido.

Landy foi recontratado em 1983, depois que Wilson ou por outro período de comportamento perturbador que incluía overdose, morar em um parque da cidade e contrair dívidas substanciais. Landy utilizou uma técnica de 24 horas por dia, que envolvia a prescrição de medicamentos psicotrópicos e o bloqueio da geladeira, e acabou controlando todos os aspectos da vida de Wilson, inclusive atuando como produtor e coautor de suas músicas quando ele retornou com um álbum solo em 1988.

A família de Wilson entrou na Justiça para terminar seu relacionamento com Landy em 1992. Wilson disse que Landy havia salvado sua vida, mas mais tarde também o chamou de manipulador. As autoridades médicas da Califórnia acusaram Landy, que faleceu em 2006, de envolvimento indevido com os assuntos de um paciente. Ele desistiu de sua licença de psicólogo depois de itir que prescreveu medicamentos ilegalmente.

Wilson teve retornos esporádicos à música. Ele parecia frágil, hesitante e instável, e nenhum dos trabalhos posteriores ao retorno trouxe algo próximo da aclamação de seu catálogo anterior.

Um dos álbuns mais bem recebidos de seu segundo ato foi o "Brian Wilson Presents Smile", de 2004, uma revisitação do trabalho que havia sido planejado como a continuação de "Pet Sounds", mas que foi descartado devido à oposição dos pares de banda.

Os irmãos de Wilson haviam morrido na época da turnê de reunião dos Beach Boys em 2012, que comemorava os 50 anos da banda, mas ele se juntou a Love, que se tornou a força motora da banda, para vários shows. No final, Wilson disse que se sentiu como se tivesse sido demitido, mas Love negou. Wilson se apresentou ao vivo pela última vez em 2022.

Wilson e sua primeira esposa, Marilyn, tiveram duas filhas, Carnie e Wendy, que fizeram sucesso na década de 1990 como parte do grupo Wilson Phillips. Ele e sua segunda esposa, Melinda, que ele conheceu quando ela lhe vendeu um carro usado, tiveram cinco filhos.

(Reportagem de Mary Milliken, em Los Angeles; reportagem adicional de Ryan Patrick Jones, Bhargav Acharya e Lisa Richwine)